segunda-feira, 12 de novembro de 2007

o surrealismo foi um movimento artístico e literário surgido primariamente em Paris dos anos 20, inserido no contexto das vanguardas que viriam a definir o modernismo. as características deste estilo: uma combinação do representativo, do abstrato, e do psicológico. segundo os surrealistas, a arte deve se libertar das exigências da lógica e da razão e ir além da consciência cotidiana.

acredito eu, que no nosso dia a dia, o surrealismo está mais que presente, não sendo apenas um resultado de arte.

minha maior experiência surreal aconteceu no outono de 2001. havia abidicado do conforto em jundiaí, e mudado de trampo. havia de me apresentar no km 12 da rodovia moju-abaetetuba, a algo em torno de 3 horas de belém do pará. num conversa telefônica pra lá de rápida, meu futuro-chefe me convenceu que eu era esperto o suficiente para chegar na obra, sem ser necessário mandar algum motô me pegar.

o trajeto era pra lá de simples: pegar um taxi do aeroporto para o porto fluvial. chegando lá deveria comprar uma passagem combinada belém-arapari-abaetetuba, aonde o primeiro trecho era feito de barco, e o segundo trecho de ônibus. na parte final do trajeto, deveria pedir ao motorista que parasse no km 12 do a estrada supra-citada.

assim o fiz, cheguei no aeroporto, fui para o porto, um calor pra lá de filho da puta, derretendo de com força, fazendo mais que juz a fama de tampa de marmita. esperei o barco, dando início, aquele momento, ao meu atual passa-tempo favorito: admirar as ações, trejeitos e costumes dos transeuntes. só não tinha ainda a máquina de tocar mp3 plugada nos ouvidos, o que me permitiu escutar nomes e termos nunca antes captados pelos meus martelos, bigornas e estribos. começava aí minha viagem surreal.

de baixo de chuva, iniciou-se a incursão rio acima em direção a arapari. uma hora de água em cima e embaixo, mato, mas muuuuito mato, nas múltiplas direções da rosa dos ventos. chegando ao porto de destino, me dirigi ao ônibus. me sentia mais perdido que um muleque procurando a mãe na feira livre na afonso pena. achei o diabo do veículo... na porta, recepcionando os passageiros, se encontrava uma figura deveras peculiar. um cara com algo em torno de 30 anos, trajando, apesar de um calor descomunal, uma jaqueta de couro (daquelas nota 10) com pêlo de carneiro da gola, exibindo na face um ray-ban pra lá de falsi. me dirigi ao mesmo e indaguei se conhecia o canteiro de obras que seria meu destino, recebendo uma resposta positiva.

entrei no busão e segui ao fundo do mesmo, de onde podia observar aqueles nativos, que para mim eram tão peculiares. fantástico! começou a jornada... o motorista, vestido para um inverno londrino, levava o ônibus a uns 120 km/h sem medo algum de ser feliz. no som, nada menos que um disco psicodélico dos beatles (talvez o sgt peppers, mas não me recordo com precisão), pra direita e esquerda só mato, pra frente e pra trás, uma estrada de asfalto pista única sem acostamento, que não passava de um risco negro naquela imensidão vegetal. após um longo procedimento cata-jeca estrada a fora, chegamos aquele mar de lama, que humildemente batizaram de canteiro de obras.

observando aquela cena, circundado de verde por todos os lados, debaixo de chuva, ao som de algo próximo a lucy in ths sky, admirando aquela imensidão de terra liquefeita, ao lado de um james dean look-like, foi que finalmente cai na surreal! percebi que havia chegado o ápice do surrealismo em minha vida. eu fazia, naquele momento, parte de uma tela merecedora de uma parede no moma. era a vida imitando a arte.

aí você se pergunta "putaqueopareo! que caso longo! eu lá quero saber desses devaneios?" por que? por que?!!". eu explico: depois disso, adoro procurar no dia a dia, cenas surreais que passam despercebidas se não prestarmos atenção.

quinta passada, entrei no banheiro aqui do trampo, e peguei mais um desses breves momentos, o qual tomei a liberdade de capturar para postar aqui.


o que para alguns não passa de loucura alheia, para mim é mais um belo exemplo de contato com com a surrealidade.


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