terça-feira, 5 de maio de 2009

peninha

no correr de 1993, enquanto cursava american literature a, li um texto de d.h. lawrence que dizia:

self-pity
i never saw a wild thing sorry for itself.
a small bird will drop frozen dead from a bough,
without ever having felt sorry for itself.


tradução livre:

auto-piedade
eu nunca vi uma besta selvagem sentindo pena de si mesmo
um pequeno passáro cairá morto congelado de um galho,
sem nunca ter sentido pena de si mesmo.


tomei isso como premissa básica para minha vida. 15 anos se passaram como deviam, e assim pretendo seguir minha vida.

poisé, mas isso não me impede de ter piedade com o próximo, sentir pena de almas desprovidas de sorte ou sucesso.

é o caso de "everson", um cara que eu não conheço, e, pelo que tudo indica, nunca irei conhecer.

tomei conhecimento de sua existência numa fila do subway, aonde uma moça chorosa falava muito ao telefone, estando na outra ponta da linha, o pobre coitado, everson.

pobre coitado por quê? bem, seguem alguns trechos:

"poisé, everson, depois que terminei, minha vida vai mal... sabe... ficar sem beijar é foda... sábado fui pra caraguá... cê sabe, né? só pra balada... queria beija na boca... é beijei muito... everson, mas o cara era feio... nossa coitado dele... por que eu beijei? porque ele fez uma massagem fantástica... eu preciso de um homem, everson... ah não... viver assim, ninguém merece... preciso sair mais... conhecer outras pessoas... beijar mais... everson... fazer aquilo né everson? hehehe... ai, que saudade..."

olhando pra frente, me veio uma vontade de virar pra trás, tomar o telefone, e falar com o everson:

- CARALHO, EVERSON!! COME LOGO ESSA MUIÉ, FI!!! MOSTRA PRA QUE QUE CÊ VEIO!!!

juro que tentei controlar... não resisti... respondendo aos impulsos, olhei pra trás para tomar o telefone, quando... brochei!

não conheço o everson, não sei o que ele pode ter feito da vida dele, mas ninguém fez algo por merecer ter que comer aquilo que estava atrás de mim na fila... muito menos ter que ficar ouvindo aquela ladainha... tenho pena dele...

se bem que tenho pena de mim também... afinal de contas, também ouvi a ladainha sem ter feito por merecer...

é... viver é rever conceitos...


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